
Entrevista com a professora Gabriella Ciotto sobre suas rodas de leitura
“Gabriella Ciotto, atualmente professora de Português, já foi educadora social. Formada em Letras – Português, é pós-graduada em Direitos Humanos e Questões Sociais. Em nossa escola, sua trajetória começou com um estágio obrigatório da faculdade, em 2016. Após esse período, Gabriella retornou à escola em 2022 como educadora social e, em 2023, assumiu o cargo de professora de Português.”
Gazeta Marista: De acordo com seus conhecimentos, o que você sentiu ao realizar as rodas de leitura?
Gabriella: Eu me senti muito alegre, porque quando comecei esse processo de trazer a leitura, especialmente a literária, para a escola, era um momento em que muitas pessoas diziam que “o Brasil é um país de poucos leitores”. Mas nossa escola tem um perfil bem diferente, porque aqui temos crianças e adolescentes que leem e escrevem. E se leem e escrevem, por que não falar sobre literatura, que é algo a que nem todos têm acesso? Então, tanto as rodas de leitura quanto o desafio literário promovem esse acesso.
Gazeta Marista: Você pensa em continuar com as rodas de leitura?
Gabriella: Com certeza. Fico imaginando o momento em que essas rodas vão acontecer sem mim, sabe? De forma bem natural, com bastante literatura.
Gazeta Marista: O que você já ouviu dos alunos sobre as rodas de leitura?
Gabriella: Já ouvi pessoas dizendo que não gostavam de ler, mas que agora gostam e têm mais acesso à literatura. Outras disseram que sentem saudade. Já ouvi até que dá sono.
Gazeta Marista: Observando os estudantes, você conseguiu perceber algum resultado?
Gabriella: Vi de tudo, mas, com dados, foi possível perceber um aumento nos acessos e empréstimos na biblioteca, além da frequência dos alunos no espaço, principalmente depois do início do projeto Desafio Literário. Outro exemplo é que, em sala de aula, os estudantes agora não estão apenas com seus materiais, mas também com livros, que passaram a ser objetos importantes e constantes com eles. Então, vi esse movimento acontecer.
Gazeta Marista: O que você acha necessário para que uma roda de leitura funcione bem?
Gabriella: É necessário que não seja um projeto só da Gabi. Minha necessidade é que seja um projeto da escola de fato, com outras pessoas envolvidas. Também é essencial termos um acervo maior de literatura, para que possamos partilhar mais conteúdo, principalmente os clássicos. Muitas vezes, dizem que são difíceis demais para o ensino fundamental, mas já estamos lendo “A Metamorfose”, de Kafka, e vocês entenderam muita coisa. Então, a literatura de qualidade precisa estar nas mãos de vocês — é preciso garantir esse acesso. Essas são as minhas necessidades.
Gazeta Marista: Você teve algum imprevisto ou dificuldade durante as rodas de leitura?
Gabriella: Acho que uma grande dor é o clima. Se o tempo está bom, a gente consegue vir para fora da sala, o que é mais gostoso. Mas se está chovendo ou muito quente, nas salas dos nonos anos, que são os laboratórios 1 e 2, não conseguimos organizar o espaço em forma de roda. E fazer leitura sem estarmos em roda, sem o olho no olho, afeta a qualidade do que estamos fazendo. Essa é uma dor. Outra foi quando fiquei rouca, com dor de garganta, e tivemos que improvisar, pedir para outro ler. Mas o principal é estarmos todos em roda, no mesmo nível, nos olhando igualmente. E não poder fazer isso, por causa do mobiliário — que a escola está revendo —, também é um desafio, porque acabamos dependendo do clima para fazer as rodas aqui fora.
Gazeta Marista: Há quanto tempo você está na escola?
Gabriella: Voltei para a escola em 2022, mas em 2016 fui estagiária da biblioteca. Depois, atuei como auxiliar de biblioteca e, em 2022, retornei como educadora social.
Gazeta Marista: O que você deixa como mensagem?
Gabriella: É importante lembrar que a literatura é um direito de vocês. E vocês não podem ser subestimados com falas do tipo “esse livro é muito difícil para sua idade”. Vocês têm o direito à literatura de qualidade. Não que a infanto juvenil não seja — mas é essencial garantir o acesso à literatura clássica e densa. Isso é importante.