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Imagem Que Horas Ela Volta?

Que Horas Ela Volta? Um retrato sensível e necessário do Brasil

Por: João Pedro Gonçalves (3ºB)

     Que Horas Ela Volta?, dirigido por Anna Muylaert, é um dos filmes brasileiros mais impactantes da última década. Através da história de Val, uma empregada doméstica que trabalha há anos na casa de uma família rica em São Paulo, o filme discute desigualdade social, relações de classe e o lugar que se espera que cada um ocupe dentro dessa estrutura. Quando Jéssica, filha de Val, vai prestar vestibular e se hospeda na casa onde a mãe trabalha, as tensões se tornam inevitáveis.

     O choque entre as duas gerações — com Val aceitando as regras implícitas da casa e Jéssica se recusando a abaixar a cabeça — escancara os limites da falsa cordialidade entre patrões e empregados. A presença de Jéssica incomoda não por falta de educação, mas justamente por ela não aceitar uma hierarquia que deveria ser invisível. Isso não só abala a dinâmica da casa, mas também a relação entre mãe e filha.

     Com direção firme e roteiro preciso, o filme mostra como o afeto pode existir mesmo em ambientes marcados pela desigualdade, mas que ele não é suficiente para corrigir o que é estrutural. Regina Casé entrega uma das melhores atuações do cinema nacional, trazendo humanidade e complexidade para Val. Sem apelar para exageros, Que Horas Ela Volta? provoca desconforto e reflexão, ao mesmo tempo em que dá voz a uma parcela enorme da população brasileira que, muitas vezes, é invisível nas telas. É um filme necessário, que continua atual e que merece ser debatido.